“As Orações de Mansata” é uma adaptação de Macbeth à realidade africana. (…) A obra de Abdulai Sila é a primeira peça teatral da Guiné-Bissau a ser escrita e cuja acção decorre no período pós-colonial. Aliás, é uma das primeiras peças do pós-independência em toda a África. (…) Quem lê a peça deveras percorre com a vista a escrita de um poema dramático em português, com uma mistura cativante de palavras do crioulo da Guiné-Bissau e de línguas indígenas, principalmente mandinka. Para o espectador, não obstante as cenas em que há violência, As Orações de Mansata constitui uma representação teatral tanto visual como oralmente atraente.
(…) Não há dúvida que por meio de sua forma e conteúdo “As Orações de Mansata” contribui, filosófica, social e artisticamente, para o nosso entendimento de vários aspectos da realidade do mundo em que vivemos hoje em dia. É de esperar que no futuro não longínquo também haverá um filme, de distribuição internacional, baseado nesta obra original e principal de Abdulai Sila, um pioneiro no âmbito da expressão cultural da Guiné-Bissau, assim como de todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e, na verdade, de toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Russel G. Hamilton Prefácio à edição da obra (Cena Lusófona, 2010)
este espectáculo
Definida como “uma adaptação de Macbeth à realidade africana”, a peça – que é o primeiro texto dramático da literatura guineense – oferece um impiedoso retrato dos mecanismos de corrupção, luta pelo poder e violência extrema que caracterizam vários regimes políticos em todo o mundo e têm marcado, de forma trágica, a realidade da Guiné-Bissau nas últimas décadas.
Oito conselheiros do Supremo-Chefe, encarregados de assuntos como tchumul-tchamal [confusão], meker-meker [intriga] ou nhengher-nhengher [conspiração] disputam entre si a melhor forma de derrubar o líder e ocupar a cadeira da Suprematura. Para o efeito, partem em busca das “Orações de Mansata”, que supostamente lhes facilitariam a dominação sobre o seu povo, num processo em que a traição, a tortura e o assassinato são reduzidos à banalidade.
A realidade de uma certa África contemporânea é ainda retratada nesta peça através das tensões e das contradições entre as culturas ancestrais (a poligamia, a ligação ao sobrenatural, as formas de poder tradicional, o lugar reservado às mulheres) e o crescente impacto da globalização, nomeadamente através da internet, de outros meios de comunicação e de uma mobilidade internacional e intercontinental cada vez mais facilitada.
O espectáculo é uma co-produção internacional, com actores de seis países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe). Integra o projecto P-STAGE – Portuguese-Speaking Theatre Actores Gather Energies, uma parceria da Cena Lusófona com o Elinga Teatro (Angola) e a AD – Acção para o Desenvolvimento (Guiné-Bissau), desenvolvida no âmbito do Programa Europeu ACP Cultures.
estreia
17 de Outubro de 2013, Coimbra, Portugal, Teatro da Cerca de São Bernardo
classificação etária M/12 duração 2h30